As raízes culturais, marcadamente influenciadas durante o período muçulmano, o património histórico de Espírito Santo, como é o caso da igreja matriz de origem romana e árabe, e o património natural ainda preservado, com a sua fauna (cegonhas, tarambolas douradas, cotovias montesas, gatos bravos, fuinhas, texugos e lontras nas margens dos rios, entre outras espécies), e com a possibilidade de se praticar actividades de caça, são fortes razões para nos visitar.

Paróquia do Espírito Santo

Igreja Paroquial do Espírito Santo

A fundação da igreja do Espírito Santo remontará, provavelmente, a finais do século XIII ou a inícios do século XIV, épocas em que o culto ao Paracleto adquire um forte impulso, de norte a sul do país. Sediou-se na aldeia dos Crespos, antropónimo que, como tantos outros do termo de Mértola, se reporia à presença de senhores terra-tenentes que localmente alcançaram importância e prestígio social após a Reconquista. A partir de finais do século XVI, porém, a primitiva designação da aldeia cai em desuso, embora a linha- g em dos Crespos se tivesse mantido muito para além desta centúria.

Como os demais templos de Mértola que recuam as suas origens à época medievais, ergueu-se sem a prévia autorização da Ordem de Santiago, situação de que dá conta, em 1452, um seu visitador:

«achamos quem na edeficou nom tijnha liçemça do mestre nem agora nom na tem»

De acordo com a informação constante num processo visitacional de 1515, o templo fora reedificado pelos freguesias havia «cinquoento e dous annos pouco mais ou menos», isto é, por volta do ano de 1473. Era de uma só nave e capela-mor saliente, ambas de dimensões razoáveis, e apresentava-se em boas condições. O seu recheio pode considerar-se apreciável quando comparado, a altura, com a maioria dos templos paroquiais vizinhos. Os altares e as imagens de vulto que possuía atestar essa realidade.

Ermida de St.ª Maria das Flores/N. Sr.ª das Neves

O povoado da Mesquita  e a pequena ermida dedicada a N. Sr.ª das Neves que se ergue nas suas imediações, no alto de um cerro fronteiro, são de longa tradição histórica e cultural. A  ermida mais não é, efectivamente, do que a última herdeira de um processo secular de construção e reconstrução de templos, que recua ao período de pré-Reconquista.

Esta continuidade histórica não é alheia à excelência do sítio e à posição estratégica que ocupa face ao rio Guadiana, estrada natural por onde circularam gentes e mercadorias de diferentes origens, num transito que é milenar. Era na Mesquita que a navegabilidade do «grande rio do sul» encontrava o seu primeiro  obstáculo,  obrigando  ao transbordo  de tudo o que se carregava nos porões dos barcos de maior calado. Era ainda  aqui que se localizava um dos poucos vaus de passagem entre margens, facultada por uma ponte-barca que funcionou até inícios do nosso século. Adivinha-se, por outro lado, o fervilhar de actividades associadas: o mercadejar, à luz do dia, movimentando um sem número de almocreves, e o contrabando, feito pela calada da noite.

Datam dos séculos VIII-IX os primeiros indícios evidentes da sacralização do local. Atesta-o a coluna de mármore que sobreviveu do edifício então construído, peça arquitectónica de apurado trabalho escultórico e decorativo e sem paralelos conhecidos em território nacional. Que pertenceria a um edifício cristão não parece suscitar muitas dúvidas. Não é de excluir, por outro lado, embora não existam elementos arqueológicos que o corroborem, a existência de uma primitiva comunidade paleocristã.