O povoado da Mesquita  e a pequena ermida dedicada a N. Sr.ª das Neves que se ergue nas suas imediações, no alto de um cerro fronteiro, são de longa tradição histórica e cultural. A  ermida mais não é, efectivamente, do que a última herdeira de um processo secular de construção e reconstrução de templos, que recua ao período de pré-Reconquista.

Esta continuidade histórica não é alheia à excelência do sítio e à posição estratégica que ocupa face ao rio Guadiana, estrada natural por onde circularam gentes e mercadorias de diferentes origens, num transito que é milenar. Era na Mesquita que a navegabilidade do «grande rio do sul» encontrava o seu primeiro  obstáculo,  obrigando  ao transbordo  de tudo o que se carregava nos porões dos barcos de maior calado. Era ainda  aqui que se localizava um dos poucos vaus de passagem entre margens, facultada por uma ponte-barca que funcionou até inícios do nosso século. Adivinha-se, por outro lado, o fervilhar de actividades associadas: o mercadejar, à luz do dia, movimentando um sem número de almocreves, e o contrabando, feito pela calada da noite.

Datam dos séculos VIII-IX os primeiros indícios evidentes da sacralização do local. Atesta-o a coluna de mármore que sobreviveu do edifício então construído, peça arquitectónica de apurado trabalho escultórico e decorativo e sem paralelos conhecidos em território nacional. Que pertenceria a um edifício cristão não parece suscitar muitas dúvidas. Não é de excluir, por outro lado, embora não existam elementos arqueológicos que o corroborem, a existência de uma primitiva comunidade paleocristã.

Em época almorávida ou almóada, o templo foi seguramente adaptado a mesquita, fenómeno que não deixou, aparentemente, marcas estruturais ou de outro tipo, mas que o topónimo, que sobreviveria até aos tempos de hoje, claramente denuncia. Após a Reconquista, é de novo consagrado ao culto cristão, recebendo então o título de «Santa Maria das Froles», como ainda era designado no ano de 1482.

Reportam-se ao ano de 1515 as primeiras informações detalhadas sobre a ermida de St.ª Maria. De acordo com a descrição feita naquele ano pelo visitador de Santiago, era «huua casa com sua ousia, tudo mujto pequeno», construída «em pedra E barro E cuberta de telha Vãa». Nada então já restaria das estruturas dos templos que o precederam. Aliás, como igualmente dá conta o visitador, sustentado em informações que lhe foram prestadas por «homeens amtigos», tinha sido reconstruída por um tal «Joham Lourenço», havia muitos anos, por se encontrar «daneficada E derribada».

Em 1535, a ermida é já dcsignada de «nosa senhora da mizqujta», perdendo-se a antiga invocação de St.ª Maria das Flores, que não mais seria recordada. Poucos anos antes, recebera obras de consolidação e restauro e o seu recheio tinha sido enriquecido. Possuía, então, «majs dous altares», com pinturas alusivas aos seus padroeiros: o «da banda do aVanjelho com a jmagem de sam bemto» e o «da banda da (e)pystolla com as jmagees de sam bertolameu E santo antonjo». O programa iconográfico estendia-se ao cruzeiro, no qual estava «hum cocofixyo pyntado na parede E nosa senhora de hum cabo E sam joham do outro», tudo, segundo o visitador, «pyntado de noVo». No altar-mor, por seu turno, encontrava-se a «jmagem de Vulto de nosa senhora, grande, com seu filho no collo (guardada) num Retavallo com portas pyntado de cores».

Este precioso conjunto não chegaria aos nossos dias. Em 1565, ordena-se ao mordomo da ermida «que ha mande cayar E apague as jmagens que ora estão pintadas nas paredes». Até nós não chegaria, igualmente, a imagem quinhentista da padroeira, nem o próprio edifício, que seria estruturalmente remodelado nos séculos XVII/XVIII. Há a assinalar, por outro lado, a colocação da ermida sob a protecção de N. Sr.ª das Neves, devoção mariana que conhece, a partir de finais de Quinhentos, uma notável expansão.

O templo actual tem as marcas daquelas centúrias, embora tenha sido intervencionado e recuperado já neste século. É de uma só nave, com capela-mor inscrita e pujantes contrafortes a suster as suas paredes. No seu interior, extremamente pobre, conserva-se uma imagem de N. Sr.ª das Neves, de feição popular, atribuível à primeira metade do século XVIII.